Parou a chuva, ainda sinto o
cheiro de terra molhada e os primeiros raios de sol.
O sol aparecia devagar, seus
raios, tímidos, sorrateiros,como se fosse difícil chegar depois de tanto tempo escondido.
A calçada em volta da casa, já
quase seca, tinha ainda um pouco de
umidade, mas capaz o bastante para se
transformar em cenário para um sonho de menina. Nela espalho os papéis rosa
choque, que envolvem o bombom Sonho de Valsa, eles sempre foram iguais aos de
hoje, guardados, juntados com muito carinho e cuidado. Espalho e sonho.
Há! Aquela cor!
Os desenhos!
O nome!
E a minha cabecinha de menina, já
se achando quase moça, se punha a voar, a devanear, a dançar, percorre salões,
salões nunca visitados, mas muito imaginados, eram complementos de todos os salões vistos e admirados nas
revistas “O Cruzeiro” e outras do gênero.
O casal estampado no papel do
bombom está percorrendo o salão, o vestido dela era daqueles admirados nas
folhas dos figurinos ou quem sabe da estória da Cinderela e os sapatos, Luiz
XV, é claro, tudo tão distante da realidade vivida. Mas que importancia tinha
se a menina usava vestido de um estampado simples, bem comum e se no pé usava
uma conga azul e se o cenário daquele momento estava tão distante dos grandes
salões, como um polo do outro.
A única coisa a se levar em conta
era que aqueles papéis de cores berrantes para a época, traziam sempre duas
alegrias, a de saborear o chocolate(unica coisa que ainda mantém o mesmo gosto
de infancia) e a de, admirando-os poder
transferir-se para um mundo onde tudo era possível, tudo era lindo
especial, um mundo completo, completo de sonho, de sonho de valsa.
A menina que fui, caiu na valsa
do tempo, cresceu, aprendeu, amadureceu e um dia deparou com os mesmos papéis,
só que agora em tamanho gigante, envolvendo deliciosos Ovos de Páscoa e ainda
os olhei com um certo carinho, com um certo apego ou quem sabe um agradecimento
pelas boas lembranças. Mas tudo foi modificado, hoje os papéis tem o tamanho do
meu sonho de infancia, mas minha capacidade de sonhar foi reduzida a miniatura.
Como eu gostaria de driblar a valsa do tempo e por um momento, ter de novo o
sonho, o sonho que vinha com o sonho de valsa.
Lúcia.