quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

SONHO DE VALSA - A VALSA DO TEMPO....




Parou a chuva, ainda sinto o cheiro de terra molhada e os primeiros raios de sol.
O sol aparecia devagar, seus raios, tímidos, sorrateiros,como se fosse difícil chegar depois de tanto tempo escondido.
A calçada em volta da casa, já quase seca, tinha ainda um pouco de  umidade, mas capaz o bastante para se transformar em cenário para um sonho de menina. Nela espalho os papéis rosa choque, que envolvem o bombom Sonho de Valsa, eles sempre foram iguais aos de hoje, guardados, juntados com muito carinho e cuidado. Espalho e sonho.
Há! Aquela cor!
Os desenhos!
O nome!
E a minha cabecinha de menina, já se achando quase moça, se punha a voar, a devanear, a dançar, percorre salões, salões nunca visitados, mas muito imaginados, eram complementos de  todos os salões vistos e admirados nas revistas “O Cruzeiro” e outras do gênero.
O casal estampado no papel do bombom está percorrendo o salão, o vestido dela era daqueles admirados nas folhas dos figurinos ou quem sabe da estória da Cinderela e os sapatos, Luiz XV, é claro, tudo tão distante da realidade vivida. Mas que importancia tinha se a menina usava vestido de um estampado simples, bem comum e se no pé usava uma conga azul e se o cenário daquele momento estava tão distante dos grandes salões, como um polo do outro.
A única coisa a se levar em conta era que aqueles papéis de cores berrantes para a época, traziam sempre duas alegrias, a de saborear o chocolate(unica coisa que ainda mantém o mesmo gosto de infancia) e a de, admirando-os poder  transferir-se para um mundo onde tudo era possível, tudo era lindo especial, um mundo completo, completo de sonho, de sonho de valsa.
A menina que fui, caiu na valsa do tempo, cresceu, aprendeu, amadureceu e um dia deparou com os mesmos papéis, só que agora em tamanho gigante, envolvendo deliciosos Ovos de Páscoa e ainda os olhei com um certo carinho, com um certo apego ou quem sabe um agradecimento pelas boas lembranças. Mas tudo foi modificado, hoje os papéis tem o tamanho do meu sonho de infancia, mas minha capacidade de sonhar foi reduzida a miniatura. Como eu gostaria de driblar a valsa do tempo e por um momento, ter de novo o sonho, o sonho que vinha com o sonho de valsa. 

Lúcia.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

DISSIMULANDO

Hoje resolví,
Fazer do meu passado
Um bordado...
Pensei numa tapeçaria,
Por onde começaria?
Não segui o tempo,
Fui bordando,
Recordando.
Bordei flores com meus amores.
Bordei listras de várias cores,
Camuflando dores.
Retoquei caminhos,
Contornei esperanças,
Coloquei cores vivas
Nas boas lembranças.
Cobri com bordados cheios,
Os medos, os segredos,
As perdas e intemperanças.
O pior, caseei, rebordei,
Escondi da lembrança.
Bordei, rebordei e
Terminei...
Fiz um quadro,
Emoldurei,
Envidracei,
Não pendurei,
Deixei guardado,
Escondido, fechado
Num bordado,
A minha vida,
O meu passado.....

Lúcia